domingo, 26 de agosto de 2018

DECLARAÇÃO DE AMOR À IGREJA




Eu amo a minha Igreja. Minha, não no sentido de posse, mas porque eu pertenço a ela. Ela não é minha. Ela pertence ao meu Senhor Jesus Cristo e eu me sinto acolhido e feliz por fazer parte da comunhão de seu povo desde meu batismo. Ela não me pertence. Por isso, eu não imponho meus conceitos e preconceitos, mas procuro servir humilde e obediente meu Senhor nas pessoas que ele põe no meu caminho, por mais diferentes que sejam.


Eu amo a minha Igreja da qual Cristo é o Senhor, pela qual ele morreu e ressuscitou, na qual ele nos conduz pelos caminhos da Missão (Liturgia, Comunhão, Evangelização, Diaconia) rumo à casa do Pai (João 14.1ss.). Contra esta Igreja “as portas do inferno não prevalecerão” (Mateus 16.18). Nesta Igreja eu sigo meu Senhor, pois “ele deixou exemplo para seguir seus passos” (1 Pedro 2.21). Nesta Igreja eu me esforço para servi-lo fielmente “amando Deus acima de todas as coisas e amando as pessoas como a mim mesmo” (Mateus 22.34-40).


Em 1 Coríntios 12, o apóstolo Paulo compara a Igreja a um corpo. Cada qual é membro deste corpo, cuja cabeça é Cristo! Quando uma parte de nosso corpo adoece, é na cabeça que se manifestam os sintomas (percepção da dor). Assim também na Igreja: ela é formada por pessoas pecadoras, porém justificadas e resgatadas por Cristo. Em sua fraqueza humana, elas sempre de novo são tentadas a querer se emancipar do corpo ou assumir a função da Cabeça. A esta doença damos o nome de pecado. Quando nós, o corpo, adoecemos por causa de nossas fraquezas e pecados, é a cabeça, Cristo, que sofre por nós.


Eu amo a minha Igreja, contra a qual nada e ninguém prevalecerá, pois ela pertence a Cristo! Eu amo a minha Igreja, apesar de sintomas febris que humanamente a acompanham. Tenho a absoluta confiança de que meu Senhor cuidará dela. Quando adoecemos, vamos em busca do tratamento que interrompa o mal que nos acomete. Na Igreja, nos encontramos o remédio nas Sagradas Escrituras, que nos orientam a “cooperar com igual cuidado em favor uns dos outros” (1 Coríntios 12.25). Temos o compromisso de amar nosso próximo independente do que ele é ou como pensa, pois Deus nos ama incondicionalmente por meio de Jesus Cristo, independente do nosso merecimento (Romanos 3.23-24 e 1 João 4.7ss.). 


Eu amo a minha Igreja, febril segundo os conceitos humanos, mas imperecível na comunhão com Cristo! Eu amo minha Igreja porque ela pertence a Cristo. E nenhuma polarização das Redes Sociais prevalecerá contra ela!

P. Geraldo Graf

quinta-feira, 29 de março de 2018

VIA CRUCIS 4


Gente sendo crucificada no Império Romano era comum. Quase todo dia havia isso. Ladrões, malfeitores, assassinos, adúlteros... toda hora alguma pessoa do mal era julgada e condenada a morrer pregada numa cruz. O Calvário e muitos outros lugares por todo Império Romano eram verdadeiros palcos de horrores. Deixava-se o crucificado na cruz por dias, mesmo depois de morto, para ser comido pelos urubus. O sepultamento de Jesus foi uma exceção. Quem tinha um pouco de decência já sabia: “eu não quero parar ali, nesse lugar”! E era uma pena bem antiga, inventada pelos persas em 539 a.C. Já no ano de 70 a.C., uma crucificação em massa matou 6.000 rebeldes. Por que então a crucificação de Jesus teve tanta repercussão e ainda hoje nos comove? O que vale é que a cruz se tornou o símbolo da fé cristã, como um sinal do amor infinito de Deus pela humanidade. Em Jesus, Deus desce até nós e nos abraça, presenteando-nos vida plena.

(P. Clóvis Horst Lindner - Programa Olhar Para O Vale - 29.03.2018)

quarta-feira, 28 de março de 2018

VIA CRUCIS 3


O condenado Jesus segue rumo ao Calvário com a sua cruz nas costas. Alguns têm pena dele. Uma é a sua mãe. Ela acompanha todos os passos e sofre com ele. Desejaria morrer no lugar do filho. Quer arrancá-lo dali e cuidar de seus ferimentos. Até os soldados, ao ver que desfalecia, obrigaram um tal de Simão a carregar a cruz dele. E a dramaticidade da Via Crucis aumenta. Verônica limpa o rosto de Jesus e ele cai pela segunda vez. Algumas mulheres que choravam por tudo aquilo são consoladas pelo condenado. “Não chorem por mim. Coisas muito piores vão acontecer e nenhuma mulher vai querer ter dado a luz algum filho”, ele dizia, enquanto caminhava, com mais dois outros condenados carregando suas próprias cruzes. É um cenário de execução. Uma multidão sedenta do sangue derramado da justiça não arreda pé dali. Só a morte os fará voltar para seus afazeres. Mas Jesus sabe: sua morte tem outro significado. E ele silencia. E aceita.

(P. Clóvis Horst Lindner - Programa Olhar Para O Vale - 28.03.2018)

terça-feira, 27 de março de 2018

VIA CRUCIS 2


Os primeiros passos da paixão de Jesus representam um simulacro de justiça. Os homens têm dificuldade em ser justos, não é mesmo? Um beijo de delação premiada por trinta moedas, e Jesus é preso. Calado e subjugado, ele é julgado e humilhado. Não tem advogado, nem direito a um último pedido. Os seus torturadores zombam dele. Só alguns aliados, lá fora, esperam que a justiça faça a sua parte e o liberte. Pilatos, o governador vassalo da Judeia, encena um júri e até deixa o réu fazer a própria defesa. “Tu o dizes”, responde Jesus. Para mostrar a lisura do seu tribunal, Pilatos até vira democrático e deixa o povo votar: “Barrabás! Barrabás!”, grita a massa, num coro manipulado pela mídia da época. E Jesus não escapa da condenação. Não há clemência para o justo. Ele nada diz. Apenas aceita. Jesus sabe que há uma motivação maior por trás desse veredito de morte. Ele carrega a sua cruz até cair. É chocante, a Via Crucis. Que a bênção do condenado recaia sobre ti!

(P. Clóvis Horst Lindner - Programa Olhar Para o Vale - 27.03.2018)

domingo, 25 de março de 2018

VIA CRUCIS (VIA SACRA)




Hoje começa a semana santa, a semana mais dramática do ano da Igreja. Sou pastor luterano e lamento a nossa falta de simbologia litúrgica na celebração da nossa fé. Especialmente nesta semana de luto e dor, eu sinto uma inveja boa dos nossos irmãos católicos. A Via Crucis (ou Via Sacra), que representa os passos de Jesus até a morte por nós, é representada de milhões de maneiras ao redor do mundo. Você entra num templo católico e lá está ela, nas paredes, nos pilares, em afrescos e esculturas complexas. São ao todo 14 passos, que levam da condenação até o sepultamento. Cada passo, representado de modo dramático na arte, requer um tempo de parada, de reflexão, de permitir que o sacrifício de Jesus por nós pecadores e pecadoras entre em nosso coração e nos toque, nos comova, nos converta. Faça a experiência nesta semana santa. Entre numa igreja católica e faça a Via Crucis. É um jeito sublime de se preparar para a Páscoa.

P. Clóvis Horst Lindner

Os ramos e a nossa esperança social e política



Na liturgia latina, seguida por várias Igrejas no Ocidente, a celebração desse domingo junta a bênção e procissão de Ramos, (tradição antiga da Igreja de Jerusalém) com a celebração da Paixão que, nos primeiros séculos, a Igreja de Roma celebrava nesse domingo. (A tradição da sexta-feira santa surgiu depois). Vou meditar o evangelho lido nesse domingo para a celebração de ramos: Marcos 11.1- 10.

O relato da entrada de Jesus em Jerusalém é contada de forma simbólica e muito viva. Parece teatro de rua. Um discípulo do profeta Zacarias já tinha anunciado um tempo novo de libertação para o povo, expresso através da entrada de um rei manso e humilde em Jerusalém, montado em um jumentinho e aclamado como alguém que traz a paz (Zc 9.9- 10). No caso de Jesus, esse gesto simbólico reúne um grande grupo de peregrinos vindos do campo, da Galileia... O evangelho explicita: "ramos trazidos do campo". Aclamar com ramos nas mãos é o costume judaico na festa das Tendas. O evangelho diz que o povo saudava Jesus gritando: "Hosana, Bendito o que vem em nome do Senhor", palavras do salmo 118, cântico da festa das Tendas. O fato deles estenderem mantos nas ruas para Jesus passar era um gesto conhecido que se realizava com libertadores políticos. Tudo isso dá ao texto um tom de manifestação política de um grupo subversivo que, simbolicamente e de forma não violenta, se apodera da cidade.

Zacarias tinha profetizado a entrada em Jerusalém de um rei pacífico, mas vencedor. Agora, essa entrada de Jesus é que ele entra não como rei conquistador, mas para enfrentar o poder religioso e político, não como alguém poderoso e sim como um profeta do interior, pobre e sem poder. Ao que tudo indica, ao aceitar esse tipo de entrada, Jesus já percebe que ali ele será preso e morto. Infelizmente, ainda há muitos padres e pastores que continuam falando da entrada de Jesus como um rei messiânico vencedor.

O evangelho de Marcos nos aponta três lugares que marcam a caminhada de Jesus a Jerusalém: o primeiro é Betfagé, nome que significa "casa do figo verde" (teria alguma coisa a ver com a história simbólica da figueira estéril?). O outro é Betânia, aldeia onde Jesus se hospeda. O nome Betânia significa "casa do pobre". De fato, Jesus que se abriga é realmente um pobre. Conforme o evangelho de João, ele está ali escondido para não morrer. E o último dos lugares é o Monte das Oliveiras, onde segundo alguns textos bíblicos, vai acontecer o julgamento de Deus sobre o mundo. Então, o nosso relato de Ramos tem algo a ver com o julgamento de Deus sobre o mundo. É como se Jesus, ao entrar em Jerusalém, já nos dissesse que a vinda definitiva de Deus começou a chegar e aquilo ali tudo tinha de mudar. Só que o julgamento de Deus não se dá em termos de grandeza e poder e sim através da cruz e da inserção no meio do povo mais pobre e simples.

Então, para o povo do interior que subia a Jerusalém para a Páscoa e acompanhou Jesus naquela entrada na cidade e também para os discípulos de Jesus, aquela cena serviu para animar a esperança messiânica, a esperança de uma intervenção libertadora de Deus que viria salvar o povo. Parece que a tradução exata do Hosanah aramaico é "salva-nos dos romanos". Mas, a pergunta agora para nós pode ser: e para Jesus o que significou e o que ele quis dizer com aquela cena. E o que ela pode dizer para nós, hoje?

Minha primeira impressão é de que Jesus aparece ali como resistente e que enfrenta o poder opressor como pobre e pequeno, impotente, mas intransigentemente coerente com o que pensa e o que propõe. De um lado, hoje, ele nos diz que a intervenção militar no Rio ou em qualquer lugar não resolve nada e não é o projeto divino para libertar o povo da violência e das injustiças que sofrem. Também nos diz que a libertação vem sempre dos pequenos, dos que parecem impotentes e marginalizados. E de forma não violenta. A esperança da vitória é da vitória da cruz, da doação da vida, mesmo quando essa vitória não aparece.

Há poucos dias, tivemos o martírio de Marielle Franco. Nada justifica ou compensa o sacrifício de uma vida, mas como a doação de sua vida gerou uma mobilização e uma união de milhões de pessoas, pelo Brasil e pelo mundo... É desse tipo de vitória sofrida e doída que a nossa esperança se nutre. É a esperança pascal. É o que nos faz continuar a luta, seja como for e custe o que custar... Como a luta de Jesus e a de todos/as que querem ser discípulos/as de Jesus.

*Reflexão de Marcelo Barros sobre o Evangelho do Domingo de Ramos*

ENTRADA TRIUNFAL E UTOPIAS ENROLADAS



Um domingo radiante nos esperava na capital. Jerusalém estava em festa. Gente de todos os cantos de Israel vinha para celebrar a Páscoa. Nosso grupo estava eufórico, apesar da situação política cada vez mais dramática e do risco às liberdades por causa da ostensiva política de segurança pública do #ForaHerodes. 

O mestre nos mandara procurar um burrico. Ele queria entrar na capital montado. Encontramos um, que nos emprestaram. O mestre foi na frente, montado no animal, e nós atrás dele; assim entramos em Jerusalém.

Você não imagina o que aconteceu! Ainda me arrepio de emoção só em lembrar. O populacho, cansado de tudo aquilo e já sem paciência com o vassalo cujo nome não repito nem sob tortura, começou a lotar a rua principal. Aquele garboso homem de 33 anos montado sobre um burrico era tudo de que precisavam. Alguém em quem colocar um fio de esperança, afinal! Nos passeios, em ambos os lados da avenida principal, as pessoas nos recebiam como a nova solução para todos os males da nação. 

Em pouco tempo, já não havia mais como fugir da multidão. Não éramos mais nós a puxar o povo, mas éramos quase que carregados em seus braços. De um lado, apupos de hosana, hosana, viva o nosso Rei! Do outro, gente aos gritos de fora Herodes; volta pra Roma; abaixo a tirania; chega de corrupção! Atrás de nós um grupo não parava de cantar: Jesus é Nosso Rei! Jesus é nosso Rei!

Faixas pediam o fim do domínio romano, bandeiras de Israel tremulavam entre a multidão, que só fazia encorpar. Não contei quantos eram, mas estimativas levam a crer que eram mais de vinte mil. Os mais afoitos começaram a tirar suas túnicas e as esticavam na frente do burrico, fazendo a reverência real. As mulheres cobriam o chão com ramos, folhas de palmeiras e flores silvestres das margens do Jordão. As crianças dançavam ao redor do burrico com pequenos cata-ventos coloridos, dizendo: Jesus, Jesus, Jesus!

Pressionados pela multidão, todos nós, junto com o burrico carregando o Mestre, quase não conseguíamos avançar. Era o auge da utopia que vínhamos construindo em nossas mentes nos últimos três anos. 

As palavras animadoras e desafiadoras do mestre, suas ações em favor de tanta gente, o jeito como lidava com as minorias, como os leprosos, as mulheres... Ah, nós estávamos nas nuvens! O Reino de Deus seria restaurado! Finalmente #ForaHerodes teria que fazer as suas malas e exilar-se em Roma! Nos transformamos numa espécie de torcida organizada que conduzia a multidão: Jesus é o nosso rei! Jesus é o nosso rei! Jesus é o nosso rei!

As mãos doíam de tanto agitar ramos e bandeiras. Mas a euforia aplacava a dor. 

Foi aí que percebemos que o lado externo da massa de gente começava a silenciar. Um tumulto abafado se instalara lá atrás na multidão, que dispersava como caça acuada. A marcha da cavalaria herodiana já abafava a nossa euforia. Uma dúzia de truculentos soldados em suas armaduras romanas reluzentes vinha pela retaguarda em suas montarias, com suas lanças apontadas para a multidão e as espadas desembainhadas e prontas para o ataque. Fechavam a rua, que ficava limpa atrás de sua passagem. Nada melhor que uma tropa de choque para silenciar utopias!

Em pouco tempo, as lojas ficaram cheias, as mães cobriam seus filhos, as janelas se fecharam e as sacadas ficaram vazias. Bandeiras enroladas, faixas escondidas sob as túnicas, a multidão dispersou apressada. Nós formamos um escudo ao redor de Jesus e até o burrico escafedeu-se. Acho que voltou para o seu pasto particular...

Não tínhamos a mínima noção que, ali mesmo, junto com bandeiras e cartazes, enrolávamos também nossas utopias de um novo tempo e caminhávamos para a semana mais terrível da nossa militância. Era o fim de tudo. Demoramos para recobrar os sentidos e voltar a organizar nossa esperança que, confesso, nunca mais foi a mesma.

Clovis Horst Lindner - Domingo de Ramos de 2018



terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

BODAS DE BARRO OU PAPOULA



Oito anos são: São 96 meses, 417 semanas, 2.922 dias, 
70.128 horas, 4.207.680 minutos, 252.460.800 segundos



Depois de oito anos de casados, o casal já encontrou estabilidade. O tempo de transição já passou. Agora é tempo de adaptação e conservação, por isso comemora-se bodas de barro ou papoula.

O barro é moldável e pode ser transformado em esculturas e peças lindíssimas, que servem para enfeitar, plantar e também para conservar. Simboliza a adaptação, maleabilidade e a conservação das coisas que valem a pena no casamento.


A papoula é uma flor e como flor é também colocada como símbolo dessa boda, porque flores fazem parte de bons momentos e das principais celebrações da vida, então nada melhor do que uma flor como a papoula representar os oito anos de vida em comum.
A papoula pode significar sonho, fertilidade e ressurreição. Em um casamento sonhar é essencial, ressurgir sempre que algum problema aparece, é crucial, e a fertilidade pode estar presente na chegada de filhos, mas também no poder colher o que já se plantou na relação.

Assim, comemorar Bodas de Barro ou Papoula, quer dizer que o casal conseguiu superar os contratempos que são comuns da vida a dois e estão com olhos fixos no que ainda pode ser vivido juntos...




João e eu somos gratos por este tempo e a cada dia sonhamos com um caminhar de mãos dadas, enfrentando juntos o que há de vir. Nos alegramos com as flores que já colhemos e já temos muitas lembranças guardadas em potes de barro. Em vasos de barro vamos semeando sementes de esperança por uma vida tranquila, mas também bonita e justa para todas as pessoas... E que venham os segundos, minutos, horas, dias, meses e anos... sempre em companhia e parceria um do outro e na certeza que temos um Deus maravilhoso que nos acompanha, sustenta e fortalece em todo tempo...