Esta é uma semana na qual a imagem da mãe é muita louvada,
reverenciada e poetizada. Quantas poesias e imagens tentam retratar e expressar
o valor dessa imagem feminina de mãe como um ser quase divino. É verdade
que há algo de divino na maternidade. O poder de gerar vida, amor uterino, amor
que vem das entranhas, do útero é de onde se origina a palavra MISERICORDIA,
que significa o amor que vem das entranhas, do útero, o amor de Deus.
Mas, essa imagem "divinizada" da mãe pode também ocultar toda a
mulher que existe na mãe. Somos mães, mas, sobretudo mulheres,
com todas as nossas potencialidades de amor, cuidado e doação, mas também com
nossos desejos, limites, fragilidades e incapacidades como todo ser humano
real. Não são poucas as mulheres que se anularam completamente num ato quase
"crístico" de sacrificar-se por seus maridos e filhos, esquecendo de
si mesmas. Não podemos esquecer as palavras de Jesus quando nos ensina que:
"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo"(Mc
12:33). Isso significa que não podemos amar ao outro perfeita e saudavelmente
se não amarmos a nós mesmas. Esse amor poder ser adoecedor para quem dá e para
quem recebe.
De outra parte também temos mulheres impedidas biologicamente de gerar
filhos/as ou ainda mulheres que decidiram que não querem ou não se sentem
prontas para serem mães e por isso sofrem. Sofrem por se sentirem menos mulher
ou pela pressão social que quer arbitrar sobre os seus corpos como se fosse
coisa pública onde todos podem opinar. Segundo Simone de Beauvoir "o corpo
da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo.
Mas, não é ele tão pouco que basta para defini-la." Portanto o definir-se mulher ou mãe está
para além das funções biológicas do corpo. A maternidade não pode ser reduzida
a um útero engravidado.
A maternidade pode ser vivenciada e expandida para todo corpo que acolhe e
torna-se casa, abrigo, seio que ampara, cuida, integra assumindo a plenitude da
experiência maternal. Todo corpo pode ser um útero pronto para acolher e
cuidar da vida. Mas, o estereótipo da grande mãe, da mãe-virgem do Salvador ou
das palavras atribuídas a Paulo que dizem que "a mulher que será salva
dando luz a filhos" continua pairando sobre nossas cabeças como modelos de
mulheres salvadoras de si mesma. (I Tim. 2:14) Talvez seja um bom momento
para lembrarmo-nos das mulheres-mães da genealogia de Mateus 1, mulheres que
contrariam esse modelo estereotipado. Apesar de estarem de alguma forma
relacionada à maternidade, "mas é na contramão de ser mãe que elas se
empoderam. O que as salva não é o ventre engravidado, mas o poder de decidir
seus estados de gravidez"
Tamar, Raabe, Rute, Bete-Seba, mulheres, mães que entram na genealogia de Jesus escapando dos esquemas e estereótipos da sua época e são lembradas não por sua superioridade ética ou por ser modelo disso ou daquilo, mas pela coragem de agir em favor se si mesmas e de sua comunidade. Também nós, a exemplo dessas mulheres, somos desfiadas a resistir à mitificação e a estereótipos, bem como a termos o direito de dizer neste dia que somos mães (se pudermos ou quisermos), mas, sobretudo somos mulheres.
Da mulher, Odja Barros.
Mensqagem recebida do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos)
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