Ao por do sol, imolamos o cordeirinho. Um animalzinho lindo, branquinho,
sem defeito. Nem bem completara um ano de vida. Apenas baliu baixinho
quando lhe espetaram a garganta. O sangue jorrou abundantemente. Não
esperneou e, em pouco tempo, estava morto.
Era a primeira vez que eu assistia àquele ritual. Comovido, quase chorei. Porém, meu pai dissera: “É para o Senhor!”.
Tiraram o couro do bichinho. Repartiram suas carnes e as puseram sobre o fogo para assar.
Já escurecera. A lua cheia – a primeira da estação – brilhava no céu. Anunciava que era tempo de passagem. Já havíamos começado a nos preparar para a viagem que iniciaria no raiar do novo dia após aquela lua, em direção à terra de cultivo. Lá haveria palha para nosso rebanho, e também água, que já rareava aqui, como o pasto.
Comemos o assado do
cordeiro, sentados ao redor do lugar de comer. Tínhamos também ervas
amargas para acompanhar. Um pouco de vinho. Quando a viagem chegasse ao
fim, haveria também pão novo, de cereal novo, sem fermento, ázimo.
A lua cheia brilhava no céu. Os últimos pedaços do assado do cordeirinho haviam sido comidos. Nada restava dele.
Fomos dormir um pouco. Precisávamos estar descansados para iniciar a passagem.
Era Pessah. Passagem. Páscoa. Algo novo estava por começar.
P. Carlos Arthur Dreher
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