Uma garota fica grávida sem ter relação
com um homem. É virgem e vai ser mãe. Depois de muitas dúvidas, pesadelos e
mensagens de anjos, o carpinteiro José toma essa garota grávida como sua
esposa. Também assume a paternidade da criança que vai nascer (Mateus
1.18-25).
Dizem os evangelistas que Maria
engravida por decisão divina, pela força de Deus que chamamos Espírito Santo.
Sinceramente, a virgindade de Maria
nunca nos interessou do ponto de vista biológico, do ponto de vista médico.
Sempre sabíamos que os evangelistas que escreveram a história da Maria eram
poetas, não ginecologistas. Ao mesmo tempo, sempre levamos a mensagem dessa
história muito a sério e perguntamos o que ela quer dizer-nos. Entendemos que
ela expressa a visão de uma nova convivência das pessoas, de um relacionamento
humano novo, que brota da fé; entendemos que ela expressa um relacionamento que
não é determinado pelo domínio de uns sobre os outros, muito menos pelo domínio
de homens sobre mulheres.
Na língua que os evangelistas falavam, o
Espírito de Deus é do gênero feminino. Quando dizem que o menino da manjedoura
nasce da força desse Espírito, eles querem dizer: NA ESTREBARIA DE BELÉM INICIA
ALGO TOTALMENTE NOVO. Novo, porque corresponde à vontade de Deus. Trata-se de
algo tão novo que não brota de uma força masculina, por exemplo, dos soldados
romanos que dominavam a terra de Maria e José e que organizavam a sociedade
pelo poder da espada. A história do Natal anuncia uma nova realidade, que não
se baseia no poder dos patriarcas que apoiavam o mais forte que derrota o mais
frágil; a história de Maria contesta o heroísmo dos vencedores que pisam nos
vencidos. Por isso, Maria louva e canta: “Deus derruba dos seus tronos os reis
poderosos e põe em altas posições os humildes” - Lucas 1.52 – Somos convidados
a cooperar com o Menino da Manjedoura a concretizar essa visão de Maria.
A virgindade de Maria desmente a ideia
de que todas as estruturas devem ter um homem poderoso no comando, pois a sua
gravidez não precisou de nenhum homem para gerar o que é novo.
Essa bela história de Natal também derrota a
ideia de que cada estrutura familiar precisa ter um homem que fecunda e uma
mulher que é fecundada. O relato dos evangelistas dá importância e lugar a José
somente depois, quando Maria já está grávida, e quando é hora de cuidar
carinhosamente dela e da criança que está por vir.
A forma como os evangelistas contam a
história do Natal traz um conforto carinhoso às famílias que tem estrutura não
convencional, não costumeira, não clássica; dá consolo às famílias que vivem
uma estrutura familiar diferente do tripé clássico: Pai, mãe e filhos. Ela dá
razão a uniões variadas, com ou sem filhos. O que importa é o carinho, o
aconchego, o cuidado de uns pelos outros, o bem querer.
A história de Maria traz uma notícia
animadora às pessoas que vivem o sonho de uma convivência social nova; uma
convivência social que abdica da divisão entre vencedores e vencidos, entre
dominadores e dominados, entre merecedores e não merecedores. Ela traz uma
notícia animadora também para pessoas que vivem modelos familiares que não são
os modelos tradicionais. Essas pessoas estão em boa companhia. Elas estão na
companhia da família nada convencional que é constituída pela garota Maria, que
engravida fora do casamento, pelo carpinteiro José e pelo menino Jesus.
Silvio Meincke e Maike S. Ulrich
Dezembro de 2017
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