domingo, 20 de março de 2016

Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!



Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! (Lucas 19.38)

Quaresma é um tempo especial. Iniciou na quarta-feira de cinzas e culmina com a celebração mais importante para a cristandade, a páscoa. É um período importante para a reflexão pessoal e comunitária, para avaliações, para meditarmos no caminho trilhado por nosso Deus em Cristo por amor a nós. Neste período acompanhamos, passo a passo, o caminho de Jesus até Jerusalém. Agora, a nossa frente, está a semana santa, o auge desta história em que Deus, através de Jesus, estende sua mão amorosa a cada um de nós.

No domingo de Ramos lembramos a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. Para lá afluem milhares de pessoas todos os anos para celebrar a páscoa, a libertação da escravidão no Egito. Os números são impressionantes, estima-se que nestes dias há na cidade de Jerusalém uma população de até 100.000 pessoas.

Os relatos bíblicos testemunham que a entrada de Jesus em Jerusalém aconteceu cercada de expectativas. O hino real do povo de Israel foi cantado com entusiasmo:

- Bendito o que vem em nome do Senhor, como rei de Israel! (Salmo 118.26).


Nestas palavras transparecem as expectativas e esperanças criadas em torno de Jesus. Ao entrar na cidade, montado num burrinho (Zacarias 9.9), Jesus cumpria uma antiga profecia. Trata-se, portanto, de um cortejo triunfal. Há todo um clima de entusiasmo que contradiz com a atmosfera tensa que pairava na cidade. O caminho por onde Jesus passa está enfeitado com ramos verdes. Capas cobriam o chão por onde passava (Mt 21.8-9).

Enfim, aos olhos de todos, menos de Jesus, tudo está pronto para que ele entrasse em ação e instaurasse o seu reino. E Jesus agiu, só que de uma maneira bem diferente do que todos esperavam (veja Fl 2.5-11). Parece que isto continua assim até hoje.

Em Jerusalém não houve nenhuma aclamação real. Jesus falou ao povo e ensinou, assim como havia feito ao longo de todo o caminho. Falou duramente contra o templo e a multidão se maravilhava de sua doutrina enquanto que as autoridades procuravam uma forma de eliminá-lo (Mc 11.17-18)

A semana da paixão revela que as peças não se encaixaram. O caminho de Jesus frustrou àqueles que esperavam demonstrações de poder e força. Jesus renunciou a tudo isto. Ele revelou a face amorosa de Deus e sua vontade colocando-se ao lado das pessoas, sendo solidário, compartilhando a dor. Neste jeito de revelar a vontade de Deus Jesus mostrou que veio para ajudar, gerar esperança, construir a paz que tanto as pessoas almejam.



A semana da paixão revela que Jesus frustrou as pessoas. A causa principal foi a sua aparente fraqueza. Ele não se enquadrou no perfil esperado, nem em Jerusalém naquela vez e nem hoje. A entrada triunfal na cidade de Jerusalém culmina de forma triste e cruel na crucificação na sexta-feira santa.

O domingo de páscoa, por sua vez, atesta que Deus é o Deus da vida. A ressurreição de Jesus quebra com a espiral de violência e morte e aponta para um novo horizonte. Deus não quer a cruz, nem a de Jesus, nem as cruzes de hoje.

Por isso, nesta semana da paixão, muito mais do que lembrar a Jesus, somos convidados a testemunhar e anunciar àquele que veio ao nosso encontro de forma solidária, que nos possibilita a experiência da páscoa – das pequenas vitórias sobre situações de sofrimento, dor, solidão, e nos desafia a romper com a normalidade das tantas cruzes que continuam sendo erguidas em nossa sociedade. Em Jesus Deus afirma que não estamos mais sozinhos, que com sua presença quer marcar nossas vidas no empenho pela paz.

P. Nestor Paulo Friedrich 

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