Bendito o Rei que vem em nome do
Senhor! (Lucas 19.38)
Quaresma é um tempo especial.
Iniciou na quarta-feira de cinzas e culmina com a celebração mais importante para
a cristandade, a páscoa. É um período importante para a
reflexão pessoal e comunitária, para avaliações, para meditarmos no caminho
trilhado por nosso Deus em Cristo por amor a nós. Neste período acompanhamos,
passo a passo, o caminho de Jesus até Jerusalém. Agora, a nossa frente, está a
semana santa, o auge desta história em que Deus, através de Jesus, estende sua
mão amorosa a cada um de nós.
No domingo de Ramos lembramos a
entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. Para lá afluem milhares de pessoas todos
os anos para celebrar a páscoa, a libertação da escravidão no Egito. Os números
são impressionantes, estima-se que nestes dias há na cidade de Jerusalém uma
população de até 100.000 pessoas.
Os relatos bíblicos testemunham
que a entrada de Jesus em Jerusalém aconteceu cercada de expectativas. O hino
real do povo de Israel foi cantado com entusiasmo:
- Bendito o que vem em nome
do Senhor, como rei de Israel! (Salmo 118.26).
Nestas palavras transparecem as
expectativas e esperanças criadas em torno de Jesus. Ao entrar na cidade,
montado num burrinho (Zacarias 9.9), Jesus cumpria uma antiga profecia.
Trata-se, portanto, de um cortejo triunfal. Há todo um clima de entusiasmo que
contradiz com a atmosfera tensa que pairava na cidade. O caminho por onde Jesus
passa está enfeitado com ramos verdes. Capas cobriam o chão por onde passava
(Mt 21.8-9).
Enfim, aos olhos de todos, menos
de Jesus, tudo está pronto para que ele entrasse em ação e instaurasse o seu
reino. E Jesus agiu, só que de uma maneira bem diferente do que todos esperavam
(veja Fl 2.5-11). Parece que isto continua assim até hoje.
Em Jerusalém não houve nenhuma
aclamação real. Jesus falou ao povo e ensinou, assim como havia feito ao longo
de todo o caminho. Falou duramente contra o templo e a multidão se maravilhava
de sua doutrina enquanto que as autoridades procuravam uma forma de eliminá-lo
(Mc 11.17-18)
A semana da paixão revela que as
peças não se encaixaram. O caminho de Jesus frustrou àqueles que esperavam
demonstrações de poder e força. Jesus renunciou a tudo isto. Ele revelou a face
amorosa de Deus e sua vontade colocando-se ao lado das pessoas, sendo
solidário, compartilhando a dor. Neste jeito de revelar a vontade de Deus Jesus
mostrou que veio para ajudar, gerar esperança, construir a paz que tanto as
pessoas almejam.
A semana da paixão revela que
Jesus frustrou as pessoas. A causa principal foi a sua aparente fraqueza. Ele
não se enquadrou no perfil esperado, nem em Jerusalém naquela vez e nem hoje. A
entrada triunfal na cidade de Jerusalém culmina de forma triste e cruel na
crucificação na sexta-feira santa.
O domingo de páscoa, por sua
vez, atesta que Deus é o Deus da vida. A ressurreição de Jesus quebra com a
espiral de violência e morte e aponta para um novo horizonte. Deus não quer a
cruz, nem a de Jesus, nem as cruzes de hoje.
Por isso, nesta semana da
paixão, muito mais do que lembrar a Jesus, somos convidados a testemunhar e
anunciar àquele que veio ao nosso encontro de forma solidária, que nos
possibilita a experiência da páscoa – das pequenas vitórias sobre situações de
sofrimento, dor, solidão, e nos desafia a romper com a normalidade das tantas
cruzes que continuam sendo erguidas em nossa sociedade. Em Jesus Deus afirma
que não estamos mais sozinhos, que com sua presença quer marcar nossas vidas no
empenho pela paz.
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