Não quero estragar seu Natal. Também gosto de pinheirinhos iluminados, presépios montados com esmero e sorrisos felizes de crianças.
Não, realmente não quero estragar seu Natal.
Mas não posso deixar de lembrar que naquela vez não foi assim. Nada de idílico e poético como as velinhas, os enfeites, as figuras, os anjinhos. Bem diferente era a decoração daquela estrebaria.
Sabe, às vezes penso que as únicas figuras reais nestes presépios natalinos são o burro e a vaca. Sei que você vai estranhar que eu diga isso. Mas é que a vaca e o burro lembram o esterco que por certo cobria o chão da estrebaria.
Esterco, urina, palha babada... Moscas, de certo, muitas moscas... Voam as moscas. E incomodam. Transmitem doenças. Voam, mas são tão diferentes de anjos...
E nada disso está no seu presépio, nem no meu. As figuras vistosas, a barba-de-pau colhida nos últimos dias dão um aspecto tão bem mais higiênico ao Natal. Higiênico como o céu.
Só que Jesus não nasceu no céu. Nasceu na terra, e no pior lugar que há para nascer. Esterco, urina, palha babada... Moscas, muitas moscas. Eis na lapa Deus feito ser humano. Experimentando solidariamente a terrível condição de quem não encontra casa para morar e ter seus filhos. A estrebaria, o embaixo da ponte, o na beira-do-rio, o na beira-da-faixa, o em-cima-do-morro, o na beira-do-mangue. Esterco, urina, palha babada... e moscas, muitas moscas.
Desculpe, não quero estragar seu Natal. Também gosto de pinheirinho iluminado, do presépio bem montado e de sorrisos felizes de crianças.
Mas é que se a gente não lembrar do esterco, da urina, da palha babada e das moscas, não vai entender nunca o Natal. E a cada dia Deus vai continuar nascendo por aí.
P. Dr. Carlos Arthur Dreher
Natal de 1987
Natal de 1987
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