Ah, que processo longo...
Primeiro disseram que éramos necessárias para “melhorar a
aparência” dos homens estudantes que estudavam Teologia. Mas que não se
excedesse 10% do quadro discente.
Depois, falaram que deveríamos “buscar lugar”, sozinhas, já
que uma estrutura não podia mandar nas comunidades.
E fomos pelas comunidades, pelos campos de trabalho –
avenidas e vielas – descobrindo trabalho – muito trabalho.
Temos desempenhado bem nossa tarefa de pastoras, no zelo, no
cuidado, no engajamento. Modificamos, com nossa presença, a linguagem, o jeito
de celebrar. Modificamos mesmo sem querer. Tínhamos o chamado de Jesus – que
modificou o jeito da comunidade judaica percebendo e chamando mulheres para o
seu movimento.
Houve um dia que fomos consideradas “peças decorativas”,
daquelas que não são imprescindíveis.
Em muitos casos, enxergaram-nos como concorrentes, sem
perceber que falávamos somente da multiforme graça de Deus.
É a primeira vez que uma de nós aceita a indicação de ser da
“presidência” da igreja. Pode não ser muito, para quem está acostumado a
exercer cargos. Mas nós não estamos. Temos trabalhado como muitas antes de nós:
na assessoria, no planejamento, no desempenho das tarefas.
Ter uma mulher na presidência da igreja pode não modificar em
nada a estrutura da organização. Mas essa mulher que foi escolhida no último
Concílio, representa muitas de nós. Porque não se coloca acima de nós, não se
coloca como melhor do que ninguém, não quis o voto por ganância de poder ou por
capricho.
Ela havia sido indicada em muitos Concílios antes deste. Mas
como outras tantas mulheres que trabalham e têm crianças, preferiu sempre zelar
por suas filhas até que elas estivessem adultas, mesmo que isso representasse
uma certa “ausência” nos Concílios a que fora indicada.
Por isso, a nossa alegria está perpassando as comunidades.
Alguém de nós vai estar pertinho das decisões mais elementares, deixando a
igreja ainda mais apta a escutar clamores diferentes.
Estamos felizes sim, por esse dia. A presença feminina não
está sendo nem fruto de “ordens internacionais”, nem de busca por peças
decorativas. A presença de Sílvia é fruto do engajamento anterior em
comunidades, da escuta e convívio com outras ministras como ela e atuará neste
vínculo, nesta forma de “presidir”.
Pa.
Margarete Emma Engelbrecht