sábado, 31 de outubro de 2015

CARTA ABERTA A MARTIM LUTERO



Martim, ah Martim! Se visses a tua Igreja hoje, que tu nem querias que se dividisse... Mais do que nunca a tua máxima "Ecclesia reformata semper reformanda" é uma urgência inadiável.


Passaste anos a fio dormindo em camas de pedra, batendo com açoite no teu lombo dorido, atirando tinteiros em paredes que refletiam demônios, tudo para agradar um Deus cruel, vingador, que cobra nos filhos os pecados dos pais e é tardio em perdoar, mas extremamente zeloso em castigar.

Recusaste o desejo do teu pai, que te tornasses advogado, para enterrar tua mente atormentada pelo pecado num mosteiro agostiniano, para passar a pão e água e expulsar o pecado do teu corpo. Consideravas-te maldito e eternamente condenado; querias apenas um curto olhar de complacência do teu Deus, cruel e intolerante.

Nada, porém, aplacou o teu medo e o tormento da tua consciência culpada, culpada, culpada. Cada versículo do AT e do NT não era uma libertação para ti, mas uma chibatada, uma cobrança, algo que exigia uma justificativa e ainda mais castigos corporais. Lias a Bíblia com os olhos do tormento; em cada palavra do evangelho vias lei, lei e mais lei; para ti, para os teus, para os outros, para todos...

E então Paulo te resgatou, como num milagre de libertação: "O justo viverá por fé!" E um novo dia raiou em teu coração. A implacabilidade divina transformou-se em graça! A tua incapacidade de cumprir a lei transformou-se em evangelho libertador! A intolerância com os outros e contigo mesmo tornou-se um amor tão grande, mas tão grande, que abarcava todas as coisas e todos em tudo.

Em sua nova visão do Deus gracioso, escreveste, apaixonado: “Se alguém quisesse fazer uma pintura de Deus, ele teria que pintar um abismo de fogo – um forno em chamas, repleto de amor em brasa. Deus é todo amor, sim, o amor é o próprio Deus”. E entendeste: "A minha graça te basta". Essa extraordinária descoberta trouxe uma luz tão grandiosa em teu ser que foste capaz de transformar uma nação atormentada em um lugar de gente feliz, em paz com Deus, livre das indulgências e pronta para transformar a Europa num lugar de prosperidade, cultura, ciência e luz.

Martim, se visses a tua Igreja hoje... "Lex dura Lex" é a máxima teológica de muitos. O resgate de um Deus vingador, que está a léguas do amor e da graça revelados tão penosamente em teu Filho, tomou conta de novo da tua Igreja. A chibata, o medo, a perseguição, a intolerância, a vingança se instalaram entre nós como meios de coerção, de temor e tremor. A Bíblia, tua santa palavra de salvação e libertação, virou um codex implacável de regras para, obviamente, exigir dos outros. O colo do Deus da salvação transformou-se em escuro abismo a engolir milhões de seres, pobres e incapazes de cumprir tantas exigências, regras e leis...

A fé como único caminho para a justiça tem que ouvir: "Não basta crer! Não crês que chega! Ainda tens que percorrer um longo calvário de camas de pedra, pão e água, chibatadas e tinteiros estouradas nas paredes antes que a tua fé possa abrir-te uma pequena fresta na resistente porta da salvação de Deus!"

Martim, ah Martim! Resgata de novo a tua igreja! As trevas insistem em instalar-se em nosso meio e sufocam cada vez mais. Temo que a luz que um dia acendeste seja novamente apagada... e muitos o farão solenemente, com orgulho no coração e com a dureza dos bispos de outrora... Temo que reinstalem a Inquisição entre nós e tornem a Graça um conceito banido.

Oro, Martim, para que lembrem das tuas palavras nesta hora e não se olvidem das tuas preciosas lições de graça e amor. Oro, Martim, para que teu sobrenome não seja apenas uma logomarca na torre de igrejas que, de luteranas, ostentem apenas o nome...


Autor: Pastor CLOVIS HORST LINDNER


MULHERES DA REFORMA



















MULHERES DA REFORMA - Katharina von Bora

Katharina von Bora
A estrela da manhã de Wittenberg


Katharina von Bora

Catarina von Bora nasceu no dia 29 de janeiro de 1499, como filha de um nobre empobrecido, na pequena aldeia de Lippendorf, na região da Saxônia. A mãe de Catarina faleceu quando ela era pequena. O seu pai a levou com apenas seis anos para o convento beneditino em Landsberg, provavelmente, para ali receber uma boa educação.
Possivelmente este convento tornou-se muito caro para o pai empobrecido, que a transferiu com dez anos, em 1509, para o convento da ordem Sistersinianas Trono de Maria em Nimbschen. No convento, Catarina aprendeu um pouco de Latim, a recitar salmos decorados, ler, escrever, a fazer trabalhos manuais e conhecimentos do uso de ervas medicinais. Em 1515, Catarina fez os seus votos como freira.
Inspiradas pelos escritos dos reformadores, doze freiras fugiram do convento numa sexta-feira santa, em 1523, pois descobriram que a salvação podia ser obtida fora do convento. Um comerciante de Torgau, Leonard Koppe, escondeu as doze freiras entre os barris de peixes e assim as levou para fora do mosteiro. As mulheres viajaram de Torgau para Wittenberg, onde foram acolhidas pelos reformadores, entre eles Martim Lutero e Filipe Melanchthon. Elas foram acolhidas em casas de famílias e, mais tarde, a maioria delas também constituiu sua própria família.
Catarina von Bora viveu e trabalhou, na época, na casa do pintor Lucas Cranach e esposa Barbara Cranach. O reformador Martim Lutero sentia-se responsável pelas freiras fugitivas. Ele procurou para Catarina um esposo, o pastor e professor Kaspar Glatz.
Catarina categoricamente disse que não se casaria com ele.
O ano de 1525 foi marcado pela guerra triste e sangrenta dos camponeses. Lutero vivia angustiado e amedrontado. Ele como herege esperava pela morte a cada dia.  Em meio a essas situações de conflito, Lutero e Catarina tomaram uma decisão importante: contraíram matrimônio no dia 13 de junho de 1525. Após o casamento, o casal mudou-se para o antigo convento dos monges agostinianos em Wittenberg. O casal viveu ali com filhos, filhas, familiares, estudantes, convidados, visitas, pessoas foragidas e também pessoas que trabalhavam com a família. O casal viveu junto durante 20 anos. Catarina von Bora deu à luz seis crianças: João, Elizabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaret.
Elizabeth faleceu ainda bebê e Magdalena aos 12 anos de idade. A morte das filhas causou um grande sofrimento aos pais.
Catarina foi uma mulher empreendedora, considerada hoje a primeira empreendedora rural. Ela contribui de forma efetiva para a prosperidade da família Lutero. Além de administrar as reformas do velho convento em Wittenberg, também abrigava em sua casa muitos estudantes de várias regiões da Europa e manteve uma espécie de pensionato.  Ela também conseguiu adquirir um pedaço de terra, coordenava uma fábrica de cerveja e,também, alugou um açude para a criação de peixes.
Além da sua grande capacidade administrativa, Catarina foi uma grande parceira do seu esposo e reformador Lutero. Provavelmente, participou de muitas discussões e conversas teológicas que aconteceram ao redor da mesa em sua casa com estudantes e reformadores. Lutero a chamava não só de “minha querida” ou “minha estrela da manhã de Wittenberg”, mas também de “meu Senhor Kathe”, Catarina “a Lutera”. Numa conversa à mesa, Lutero disse: “(...) Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela”.
Lutero a tinha colocado como sua única herdeira e responsável pelas crianças em seu testamento. No entanto, este desejo de Lutero não condizia com as leis da época, pois uma viúva necessitava de um tutor. Uma viúva não podia decidir sozinha. O testamento de Lutero foi contestado e assim Catarina perdeu o direito sobre muitos dos bens da família.
Uma grande peste se abateu sobre a cidade de Wittenberg e, em 1552 Catarina von Bora retirou-se com sua filha Margaret de Wittenberg por causa da doença. No caminho para Torgau, Catarina sofreu um acidente, em consequência do qual ela faleceu em 20 de dezembro de 1552. Foi sepultada na Igreja de Maria em Torgau. Catarina von Bora foi uma mulher forte do movimento da Reforma, assim como muitas outras mulheres que aos poucos vão sendo redescobertas e saindo do silêncio e da invisibilidade.

Katharina von Bora

Pa. Dra. CLAUDETE BEISE ULRICH
FONTE: JORNAL O CAMINHO


Estátua de Katharina von Bora em Wittenberg 

MULHERES DA REFORMA - Katharina Schütz Zell

Katharina Schütz Zell

Katharina Schütz Zell

Katharina (1497/98) nasceu em Estrasburgo (França) como filha de Elisabeth Gerster e Jakob Schütz, mestre carpinteiro que fazia parte do conselho da cidade. Katharina aprendeu a ler e a escrever quando não havia escolas públicas organizadas, mas casas-escola onde professores ministravam aulas para meninas e meninos. Ela começou muito jovem a ler a Bíblia e tinha muitas perguntas que envolviam a vida religiosa.
Em 1523 Katharina casou-se com o sacerdote Matthäus Zell, um ótimo pregador e simpatizante da Reforma. O casamento de clérigos, questionando o celibato, era algo central do movimento da Reforma. Com o casamento, Matthäus Zell foi excomungado da Igreja Católica, assim como os outros clérigos que haviam casado. Katharina, corajosamente, escreveu uma carta ao Bispo defendendo o casamento dos clérigos.
Assim ela entitulou a sua carta: “Desculpas de Katharina Schütz, para Matthäus Zell, seu marido, pastor e servidor da Palavra de Deus em Estrasburgo, devido às grandes mentiras que recaem sobre ele”. A carta mostra seu grande conhecimento bíblico.
O casamento de Katharina e Mathäus sempre esteve firmado na palavra de Deus. Como havia muita perseguição aos adeptos da Reforma, o casal deu refúgio a muitos. Quando homens precisavam de asilo, ela os acolhia e escrevia uma carta de conforto e conselho às mulheres e crianças que haviam ficado para trás. Além da diaconia, Katharina também agiu como conselheira.
Katharina foi mãe de duas crianças, que morreram pequenas, causando muita dor. Ela recebeu em sua casa os reformadores Ulrich Zwinglio de Zurique e Johannes Oekolampad de Basel. Ela também trocou correspondência com vários deles, inclusive Lutero e até o visitou com o esposo em Wittenberg.  Em 1534 ela editou um hinário, apontando para a importância da música e da oração na vida cotidiana. Ela também reescreveu o Salmo 51 juntamente com o Pai-Nosso como carta de consolo, numa perspectiva inclusiva no falar sobre Deus.
Ela pregou em público três vezes, a primeira em janeiro de 1548, quando morreu o marido. As outras duas ela pregou na hora do sepultamento de duas mulheres, adeptas do pregador Schwenckfeld. Os pastores luteranos não realizaram o enterro, pois achavam que os seguidores de Schwenckfeld haviam se separado da Igreja Cristã.
Katharina defendeu a diversidade do movimento da Reforma, opondo-se a radicalismos e exclusivismos. Ela faleceu no dia 5 de setembro de 1562. Foi uma mulher avançada em seu tempo, lutadora pela igualdade de homens e mulheres no serviço da igreja e pela divulgação pública do evangelho em Palavra e Ação.

Pa. Dra. CLAUDETE BEISE ULRICH *
FONTE: JORNAL O CAMINHO

Katharina Schütz Zell

MULHERES DA REFORMA - Elisabeth von Brandenburg

Elisabeth von Brandenburg
Uma mulher regente apoia o Protestantismo

Elisabeth von Brandenburg

Elisabeth von Brandenburg nasceu em 1510 em Cölln (hoje Berlim). Ela era de família nobre. Como era costume da época, os casamentos entre as pessoas nobres e ricas eram arranjados e assim também foi arranjado o casamento de Elisabeth. Com apenas 15 anos, ela casou-se com o viúvo, 40 anos mais velho do que ela, duque Erich I, regente de Calenberg-Göttingen (é importante lembrar que, na Idade Média, a Alemanha era dividida em vários reinos). O marido de Elisabeth era  regente daquela região. O casal teve três filhas e um filho.
A mãe de Elisabeth era filha de um rei da Dinamarca. Através da sua mãe, Elisabeth também teve contato, já aos 17 anos, com as ideias da Reforma. No ano de 1534 ela também conheceu pessoalmente Martim Lutero. Ela mantinha correspondência com o reformador e, além disso, também enviava presentes a Lutero, como vinho e queijo. Ela também  recebeu uma Bíblia traduzida para a língua alemã com dedicatória pessoal de Lutero.
No ano de 1538, Elisabeth converteu-se ao luteranismo, mas seu marido permaneceu católico. O seu marido faleceu em 1540 e, durante os dois últimos anos, o casal conviveu com as duas confissões, ela protestante e ele católico.
Após a morte do marido, Elisabeth se tornou a regente do reino até o filho Erich II alcançar a maioridade. Ela governou durante cinco anos e, nesse período, introduziu a Reforma Protestante em seu território, com a forte colaboração do pastor Antonius Corvinus, o qual coordenou visitas e mudanças na organização das igrejas e também no culto. Muito importante nisso foi a mudança na celebração da Santa Ceia com os dois elementos, o pão e o vinho. Este período de cinco anos sob a regência de Elisabeth von Calenberg-Göttingen foi muito importante para o movimento da Reforma.
Atualmente, a maior igreja territorial da Alemanha, encontra-se na região de Hannover, região que pertencia ao território em que Elisabeth governou e introduziu o Protestantismo.
Para mim foi muito importante descobrir que não houve somente príncipes regentes que apoiaram o movimento da reforma protestante, mas também uma mulher regente.
Elisabeth von Calenberg-Göttingen foi uma mulher notável da Idade Média, e não somente como duquesa regente e apoiadora do movimento da reforma, mas também como escritora e estudiosa leiga de teologia. Martim Lutero e Felipe Melanchthon falavam com muita estima dela. Melanchthon sublimou em um escrito: “Elisabeth governou esta igreja com um coração materno, suave e doce, alimentada e nutrida pelo evangelho”.

Pa. Dra. CLAUDETE BEISE ULRICH *
FONTE: JORNAL O CAMINHO

MULHERES DA REFORMA - Elisabeth Cruciger

Elisabeth Cruciger, poetisa

Elisabeth Cruciger


Em 2017 estaremos comemorando os 500 anos do Movimento da Reforma. Quando ouvimos ou lemos sobre a Reforma, geralmente os primeiros nomes que aparecem são Lutero, Calvino, Zwínglio. Infelizmente, as histórias das mulheres da Reforma foram silenciadas e invisibilizadas.
Elisabeth von Meseritz, a primeira poetisa e compositora do protestantismo, nasceu em 1500 na Pomerânia, na divisa entre a Alemanha e a Polônia. Muito cedo, ela foi para o Convento Irmãs de Maria da ordem dos Premonstratense em Treptow junto ao Rio Rega. Sabe-se que o convento era um dos únicos lugares que oferecia educação para as mulheres. Lá elas aprendiam a ler, escrever, matemática, música  e tinham também a oportunidade de aprender a língua cúltica da época, o latim. Tem-se notícias que Elisabeth trocou correspondências de cunho teológico com um judeu batizado, chamado Joaquim de Stettin. Em 1522 ela deixa o Convento e foi recebida na casa de João Bugenhagen, em Wittenberg. Lá ela conheceu o aluno e colaborador de Lutero, Gaspar Cruciger, com quem se casou em 1524, marcando oficialmente o primeiro casamento protestante (uma ex-freira e um professor/pastor). Ela deu a luz a um filho e a uma filha. As famílias Cruciger e Lutero mantiveram uma forte amizade.
Provavelmente, ela também esteve envolvida nas discussões teológicas nas “conversas à mesa”. Elisabeth faleceu em 1535.
No ano do seu casamento, em 1524, Elisabeth escreveu o primeiro hino protestante que se encontra no hinário oficial da Igreja Evangélica da Alemanha n. 67, sendo cantado no último domingo de Epifania. O hino composto por Elisabeth demonstra também conhecimento da Bíblia, o que era muito importante no movimento da Reforma. Por exemplo, ela chama Cristo de estrela da manhã. Isso faz referência ao texto bíblico de Apocalipse 22.6. A mensagem deste hino afirma que a fé crista não é apenas um ato de compreensão intelectual, mas um movimento do coração, voltado não para o céu distante, mas para uma espiritualidade engajada na vida concreta. Quem sabe, brota em nós o compromisso de recuperar este profundo hino da primeira poetisa e compositora protestante no hinário oficial da IECLB.
Pa. Dra. CLAUDETE BEISE ULRICH *
FONTE: JORNAL O CAMINHO

Elisabeth Cruciger era de Pomerânia e passou um tempo no convento em Treptow em Rega. Ela deixou o convento em 1522 ou 1523 e se casou com Caspar Cruciger em 1524, que marcou o primeiro casamento oficial protestante.
Ela era amiga de Katharina von Bora. Elizabeth estava envolvida em discussões teológicas nas "conversas de mesa"
Lutero e Felipe Melanchthon a consideravam uma mulher brilhante. Ela foi a primeira mulher poetisa da reforma.
No ano do seu casamento, ela escreveu o primeiro hino protestante que se encontra no hinário evangélico aqui na Alemanha - hino 67, sendo cantado no final do tempo de Epifania.
O fato de Elisabeth ser compositora criou uma polêmica, pois as mulheres neste período não eram reconhecidas como poetisas e compositoras. Importante lembrar que em 1530 Lutero afirmou que depois da teologia ele amava a música... a música que faz acalmar a dor.
A mensagem do texto e da música afirmam que a fé crista não é apenas um ato de compreensão intelectual, mas sempre um movimento do coração. Portanto a fé crista tem a ver com todo o ser e com o cotidiano da vida.
Hino de Elisabeth em alemão.
1) Herr Christ, der einig Gotts Sohn, / Vaters in Ewigkeit,/
aus seim Herzen entsprossen, / gleichwie geschrieben steht, /
er ist der Morgensterne, / sein Glänzen streckt er ferne /
vor andern Sternen klar;
2) für uns ein Mensch geboren / im letzten Teil der Zeit, /
dass wir nicht wärn verloren vor Gott in Ewigkeit,/
den Tod für uns zerbrochen, / den Himmel aufgeschlossen, /
das Leben wiederbracht:
3) lass uns in deiner Liebe / und Kenntnis nehmen zu, /
dass wir im Glauben bleiben, / dir dienen im Geist so, /
dass wir hier mögen schmecken, / dein Süßigkeit im Herzen /
und dürsten stets nach dir.
4) Du Schöpfer aller Dinge, / du väterliche Kraft, /
regierst von End zu Ende / kräftig aus eigner Macht. /
Das Herz uns zu dir wende / und kehr ab unsre Sinne, /
dass sie nicht irrn von dir.
5) Ertöt uns durch dein Güte, / erweck uns durch dein Gnad. /
Den alten Menschen kränke, / dass er neu' leben mag /
und hier auf dieser Erden / den Sinn und alls Begehren /
und G'danken hab zu dir.

Uma possível tradução:
Senhor Jesus Cristo, o único Filho de Deus , / Pai em eternidade /
Do seu coração brotou, / como está escrito, /
ele é a estrela da manhã,/ a sua luz brilha até os lugares mais distantes
clara muito além das outras estrelas;
Nascido para nós como ser humano, /quando completou-se o tempo /
Para que nós não ficássemos perdidos na eternidade /
Até a morte para nós aniquilou, / o céu ele abriu /
A vida de volta foi trazida:
Deixa-nos em teu amor / e que teu conhecimento tome conta, /
que nós permaneçamos na fé, / e que te sirvamos em Espírito /
que nós possamos aqui sentir o gosto / da doçura do teu coração /
sendo sempre sedentos de Ti.
Tu criador de todas as coisas,/ Tu força paterna
governas de eternidade a eternidade,/poderoso a partir do teu próprio poder.
Dirige nossos corações a ti/ e transforma os nossos sentimentos
Para que não nos apartemos de Ti.
Mata-nos com a tua bondade,/ acorda-nos com tua Graça.
O velho ser humano adoece, /para que o novo possa viver.
E aqui nesta terra/ que a mente, todos os desejos
e pensamentos sejam levados para Ti.

(Tradução Claudete Beise Ulrich - novembro 2012 – Hamburgo)

MULHERES DA REFORMA - Argula von Grumbach

Argula von Grumbach
Argula von Grumbach

Argula von Stauff nasceu em 1492 em Beratzhausen (Baviera) como filha de Bernhardin von Stauff e Katharina Thering, pertencentes a famílias nobres empobrecidas. Ainda menina, foi enviada à casa do Regente da Baviera Alberto IV para receber formação nobre com as três filhas do regente, segundo costume da época. Aos dez anos, recebeu do pai um presente raro e caro para a época: uma Bíblia. Seus pais faleceram em 1509 vítimas da peste. Em 1515 ela se casou com Friedrich von Grumbach, de família nobre da região da Francônia.
Em 1522 foi proibido na Baviera ler ou mesmo discutir qualquer texto ou ensinamento de Martim Lutero. Na Universidade de Ingolstadt, o jovem mestre Arsacius Seehofer é forçado a se retratar publicamente devido aos seus pensamentos luteranos/reformatórios, sendo banido para o monastério mais próximo. O episódio é narrado por Argula von Grumbach que desde pequena lia a Bíblia e estava por dentro dos pensamentos reformatórios.
Em 7 de setembro de 1523 ela escreve uma carta à direção e aos professores da Universidade de Ingolsadt e outra ao Regente Guillherme da Baviera. Pessoalmente, entretanto, ela não recebeu nenhuma resposta. Mas o poder político reagiu e seu marido, que era católico, perdeu o emprego. Ele era uma espécie de governador de Dietfurt, uma região da Baviera. Os argumentos para que o marido de Argula perdesse o trabalho foram: “Ele não foi capaz de impedir que a sua esposa escrevesse, enviasse e publicasse cartas defendendo ideias reformatórias”.
Argula von Grumbach é reconhecida, a partir de pesquisas históricas, como a primeira escritora protestante. Ela escreveu cartas que foram publicadas, tipo panfletos, defendendo o ideal da Reforma Protestante com conhecimento teológico e citações bíblicas. E, desta forma, também entrou em conflito com os poderes da sua época. Foram publicadas oito cartas de sua autoria, escritas provavelmente entre setembro de 1523 e outono de 1524. Ela também manteve correspondência e conversas pessoais com os reformadores. Martim Lutero a reconheceu como “um instrumento especial de Cristo”.
A Igreja Territorial da Baviera criou, há pouco tempo, uma fundação com o nome de Argula von Grumbach, com o objetivo de promover direitos iguais para mulheres e homens, bem como auxiliar nas discussões sobre as questões de igualdade e justiça de gênero no contexto da igreja e da sociedade.Esta importante mulher da reforma nos estimula a ouvir as vozes das mulheres de nossa Igreja e de nossos contextos.

Pa. Dra. CLAUDETE BEISE ULRICH *
FONTE: JORNAL O CAMINHO