domingo, 16 de abril de 2017

PÁSCOA: A PAZ ESTÁ NO CENTRO!


Os furacões têm muita força. Eles podem arrancar árvores e derrubar casas. No entanto, bem no centro, no “olho” deles, tudo é muito silencioso e tranquilo.
Quando eu penso no “olho” desses furacões, sempre me lembro da História da Páscoa contada pelo evangelista Mateus. A ressurreição de Jesus é como se fosse um furacão. A ressurreição de Jesus coloca o mundo de cabeça para baixo.
Mateus deixa evidente que a ressurreição de Cristo é algo impressionante. Isso também se percebe nos relatos dos outros evangelistas. Eles iniciam assim: - Quando o sábado acabou e se aproximou o domingo, as duas Marias vieram ver o túmulo.


Estas duas mulheres estavam muito quietas. Elas estavam profundamente tristes e desesperadas. Isso era assim porque tinham sido testemunhas das barbaridades que aprontaram para Jesus na última sexta-feira. Sim, elas tinham visto Jesus sangrando até a morte na cruz que fora erguida pelos romanos. Naquela hora a sua esperança também tinha morrido. Era assim que as duas senhoras se sentiam na manhã de Páscoa.
A terra treme, quando um anjo do Senhor desce do céu, vai ao túmulo, rola a pedra e se assenta sobre a mesma. Aquele anjo brilhava como relâmpago e a sua túnica era branca como a neve. Os guardas começaram a tremer de medo quando o viram e, por isso, caíram no chão como se estivessem mortos.


Naquele momento não havia nenhuma ventania, mas era como se estivesse acontecendo um terremoto. Ali estava uma figura cheia de luz que parecia um relâmpago descido do céu. Só podia ser isso! A pedra enorme não cobria mais o túmulo. Os soldados, que até então se mostravam confiantes, tremiam de medo. Eles, como se tivessem sido golpeados, desmaiaram e se estatelaram no chão. Aqueles romanos, que até então ostentavam todo o poder, estavam impotentes. Aqueles senhores sobre a vida e sobre a morte, agora se pareciam como zumbis. Gente tonta que não tinha mais nada a dizer.
E quanto às duas mulheres de luto? O que aconteceu com elas que, anteontem, tinham visto a execução de Jesus? Elas não caíram e, de pé, ouviram o Anjo lhes diz: - Não tenham medo! Eu sei que vocês estão procurando por Jesus, que foi pregado à cruz. Ele não está aqui. Ele ressuscitou como foi anunciado no Antigo Testamento. Venham e vejam o lugar onde ele estava! Agora, vão depressa aos discípulos e digam-lhes que “Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos! Que Jesus foi à Galileia. Vocês o encontrarão lá. Podem confiar na minha palavra”.


Os soldados romanos que executaram Jesus tinham caído de joelhos no chão. Já as duas mulheres, que até pouco tempo se mostravam enlutadas e assustadas, colocam-se de pé. Elas, cheias de alegria, louvam Jesus e se põem a correr em direção aos discípulos para lhes entregar a mensagem dada pelo anjo.
Até aqui, as duas mulheres só tinham se envolvido com o repasse da Mensagem da Páscoa; da ressurreição. Só então elas tiveram o privilégio de se encontrar com o Ressuscitado que lhes disse: - Oi!
Não deu outra. As mulheres se atiraram diante de Jesus e abraçam os Seus pés. - Não tenham medo! - disse Jesus. - Digam aos meus irmãos para irem à Galileia. Eles me verão lá. (Mateus 28.1-10)


As mulheres permanecem ajoelhadas. Agora elas não estão mais nessa posição por causa de um golpe sofrido, mas porque estão agradecidas. Gratas e transbordando alegria por terem sido beijadas pela vida.
Eu não quero comparar o comportamento das duas discípulas com os soldados romanos. Quero, sim, apontar para as falas do Anjo e de Jesus. Tanto um como o outro falam da Páscoa! Cristo ressuscitou e a morte foi derrotada! Agora, notem algumas diferenças:
O ANJO é o Mensageiro da Ressurreição. Ele traz a sua Mensagem em meio a um cenário impressionante. Ele fala no meio de um terremoto, em meio a muita luz e, enquanto isso, ele mostra força ao rolar a pedra grossa que cobria a entrada do túmulo. Só então, ele diz alguma coisa sobre a ressurreição. No entanto, ele não pode mostrar às mulheres a Pessoa do Ressuscitado. Ele apenas pode apontar para um espaço vazio: - Vejam! Ele estava deitado aqui! Aqui estão os últimos vestígios de um homem morto.


E quanto a JESUS CRISTO? O Anjo rola a pedra, mas o que aconteceu no túmulo permanece incompreendido. A vitória da vida sobre a morte não é destacada pela luz do Anjo, mas pela escuridão que brota de dentro da sepultura. Na verdade, o rolamento da pedra é apenas um gesto que demonstra força. Sim, porque ninguém vê alguém sair ali de dentro.
Já Jesus se coloca diante das duas mulheres? De repente, Ele está ali. Nada é espetacular. A terra não treme e nada se ilumina. Também não rola nenhuma pedra. Só há uma simples saudação: - Oi! Não tenham medo! - Vão e digam isso e aquilo! Feito... Enquanto o Anjo se mostrou um pouco distante e intocável por causa do seu esplendor, as mulheres abraçaram os pés de Cristo. Ele é diferente de antes, mas, mesmo assim, continua familiar. Elas não têm nenhum receio de fazer contato com Ele.


O Anjo fez acontecer o “ciclone”, o barulho. Já Jesus é o “olho silencioso”, em torno do qual todas as coisas giram. O Anjo faz barulho e promove movimento. Cristo é o meio, o centro silencioso.
Os Evangelhos narram a ressurreição de Cristo com palavras diferenciadas. Somente o evangelista Mateus dá tanta pompa ao Anjo. Penso que Mateus esteja enfeitando este momento. O que aprendo disso? Ora, o que brilhante, alto, poderoso, assustador, fascinante e maravilhoso pode ser tão forte que eu até posso sentir-me como o soldado romano se sentiu. No entanto, diante daquilo que importa a grandeza não vale muito. Eu me comporto tal como as mulheres no túmulo. Para elas, a mensagem de que Cristo tinha ressuscitado, penetrou com mais força no coração, do que todo o barulho promovido pelo Anjo. Essa mensagem assusta-me, mas também me fascina, me impressiona, alegra-me.
Notem que o centro da Mensagem da Páscoa não está no barulho, mas no silêncio. A Boa Mensagem não está nas malhas do que é espetacular. O centro de tudo está no próprio Ressuscitado. Na luz brilhante, nós corremos o risco de perdê-Lo de vista e até não ouvirmos o que Ele diz.
Quando o Cristo Ressurreto se encontra com as duas discípulas, Ele as cumprimenta de forma amigável. Por que elas também não O cumprimentam da mesma forma e simplesmente seguem seu caminho? Por que elas O reconhecem? Simples! Por terem caminhado com Ele há alguns meses! Elas O reconhecem porque Ele é da família. Elas reconhecem Seu timbre de voz, o Seu jeito de ser. Não tem como não ser Ele. 


Em poucas palavras, trago dois impulsos para melhor entendermos a Páscoa a partir desta história:
1. Saiam do barulho e se dirijam ao silêncio. Evacuem-se do que é extraordinário e assentem-se ao lado do que não é espetacular!
2. Familiarizem-se sempre mais com Jesus na oração, na leitura, na escuta e falem entre si sobre isso. Assim vocês poderão melhor reconhecer o Ressuscitado em suas vidas!
Oração: Cristo, às vezes eu penso, eu sinto, vivo como se Tu tivesses permanecido na morte, como se não houvesse ressurreição. Eu te peço: - Entre na minha vida que, às vezes, parece estar morta! Amém.
 P. Renato Becker

quarta-feira, 12 de abril de 2017

O cordeirinho na noite da primeira lua cheia



Ao por do sol, imolamos o cordeirinho. Um animalzinho lindo, branquinho, sem defeito. Nem bem completara um ano de vida. Apenas baliu baixinho quando lhe espetaram a garganta. O sangue jorrou abundantemente. Não esperneou e, em pouco tempo, estava morto.

Era a primeira vez que eu assistia àquele ritual. Comovido, quase chorei. Porém, meu pai dissera: “É para o Senhor!”.

Tiraram o couro do bichinho. Repartiram suas carnes e as puseram sobre o fogo para assar. 

Já escurecera. A lua cheia – a primeira da estação – brilhava no céu. Anunciava que era tempo de passagem. Já havíamos começado a nos preparar para a viagem que iniciaria no raiar do novo dia após aquela lua, em direção à terra de cultivo. Lá haveria palha para nosso rebanho, e também água, que já rareava aqui, como o pasto.

Comemos o assado do cordeiro, sentados ao redor do lugar de comer. Tínhamos também ervas amargas para acompanhar. Um pouco de vinho. Quando a viagem chegasse ao fim, haveria também pão novo, de cereal novo, sem fermento, ázimo.

A lua cheia brilhava no céu. Os últimos pedaços do assado do cordeirinho haviam sido comidos. Nada restava dele. 

Fomos dormir um pouco. Precisávamos estar descansados para iniciar a passagem.

Era Pessah. Passagem. Páscoa. Algo novo estava por começar.

P. Carlos Arthur Dreher