quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sobre Orar


Na minha (nossa?) tradição luterana, o Pietismo sempre foi um aspecto muito forte. Não quero aqui voltar às suas origens históricas. Quero falar de como me marcou.
Desde até onde minha memória alcança, aprendi a orar. À hora de dormir minha, mãe vinha até nosso quarto e tomava nossas orações, isto é, ficava ali, às vezes sentada na cama ao nosso lado, esperando que falássemos: “Ich bin klein, mein Herz mach rein. Soll niemand drin wohnen als Jesus allein. Amen”. Traduzido, seria aproximadamente o seguinte: “Sou pequeno, torna meu coração limpo. Ninguém deve nele morar, a não ser apenas Jesus. Amém”.
Um pouco mais tarde, lá por volta dos 11 anos, minha mãe achou que eu deveria aprender uma nova oração, talvez mais adequada a minha idade: “Gott, behüt mich diese Nacht durch dein lieben Engel wach. Mache mich, durch Chisti Blut, rein von Sünden, from und gut. Amen”. Mais uma vez, traduzindo: “Deus, protege-me esta noite, através de teu querido anjo, acordado. Torna-me, através do sangue de Cristo, limpo de pecados, piedoso e bom. Amém”.
Pode-se discutir a Teologia contida em ambas as orações, mas não se tira delas uma sensação de conforto e de aconchego. Nenhuma delas resolve os problemas do dia a dia ou da noite, mas ajudam a que a gente se sinta protegido.
Até hoje, não consigo adormecer sem, no mínimo, balbuciar em pensamento a última oração, ainda em alemão.
No curto tempo em que atuei na Pastoral entre estudantes de Teologia, seguidamente ouvi e conversei sobre angústias, temores e incertezas, além de sentimentos de culpa, com moças e rapazes. Algumas vezes, perguntei se ainda oravam à noite, ou em algum outro momento do dia. Na maioria dos casos, olhavam-me pasmos, como se eu fosse algum ser do passado ou um extraterrestre.
Não, não oravam mais. Sim, já o haviam feito no passado. Mas era coisa de criança, não de teólogos e teólogas.
Constantemente, eu sugeria que orassem. Dizia-lhes que o fazia. Contava-lhes que também me envergonhara disso e desdenhara da oração no passado.
Por que será – ou estou enganado – que as pessoas que estudam Teologia, no geral, perdem aquela sua devoção original, de bons cristãos, que, de tão devotos, resolveram estudar Teologia e colocar-se a serviço do Senhor?
E não falo aqui só de teólogos e teólogas luteranos e luteranas. Em minhas andanças ecumênicas já vi isto em meio a católicos e evangélicos de todos os tipos, ao menos ente os honestos e sinceros, os que abriam seu coração.
Fala-se, hoje, muito em “depressão”. Isso sempre existiu e, em maior ou menor grau, atinge a todas as pessoas. Que foi que aconteceu com Lutero, quando viu o Diabo ao lado de sua escrivaninha, e jogou o tinteiro contra ele? A mesma coisa!
Então, companheiro, companheira, teóloga e teólogo, jogue o tinteiro contra o Diabo, e ore! Diga, pelo menos “Ich bin dein!” – “Eu sou teu”.
Certamente isto será um bom remédio contra a depressão.
E, se você não sentir vergonha, faça isso com uma amiga, com um amigo. Ela, ou ele, orará com você. Depois, abracem-se, pois só podemos sentir o abraço de Deus através dos braços de outra pessoa.

10/08/16, escrito sob o impacto de mais uma morte surpreendente de um colega.
P. Carlos Arthur Dreher



ORAÇÃO DO CUIDADO


Deus do amor, dá-me a tua mão.
Conduze a minha vida e guia os meus passos para que eu caminhe seguro.
Sob as asas da tua providência, sinto-me prestigiado.
E no colo da tua bondade encontro descanso verdadeiro.
Em dias de medo e de angústia, abriga-me em teu poder.
Em momentos de ansiedade, faze pousar sobre mim a tua paz.
Ao sentir-me fragilizado, ajuda-me a ter esperança.
Cuida de mim e dos meus amados.
Cuida do meu destino.
Quando a culpa me acusar, acolhe-me em tua graça.
Absolve-me do pecado e faze-me renascer do teu perdão.
Se eu cair, permite que eu caia em tuas mãos providentes
E se eu permanecer caído, dá-me a tua companhia.
Seja como for, cobre-me com o manto do teu amor.
Graças pelo teu cuidado, graças pela salvação.
Agora, dá-me a bênção que tanto anseio. AMÉM


(Rodolfo Gaede Neto)



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