domingo, 1 de dezembro de 2019

Alarido e movimento – hora de partir

O alarido fora grande. Tambores e trombetas tocados pelo pequeno pelotão de soldados que acompanhava o arauto imperial haviam provocado aquilo. E tocaram um bom tempo, até que a praça de Nazaré se encheu com os moradores da pequena cidade. As mulheres, como convinha, haviam ficado em casa.


E agora? De volta a sua casa, José lembrava: César, recenseamento, alistar-se na cidade em que nascera... Bem agora que Maria estava nos últimos tempos de sua gravidez!

Em silêncio, maldisse o imperador e seu império. Mais uma vez percebia a desgraça de viver em um país ocupado e governado por estrangeiros bem armados, que traziam a paz pela espada. Contudo, não havia o que fazer. Rebelar-se podia facilmente significar a morte. E não era hora de morrer, quando um filho estava por nascer.

Contou a Maria o que estava por vir. Teriam que viajar até Belém! Uma distância enorme, subindo e descendo montes, ele a pé, ela montada no jumento que possuíam. E era a estação das chuvas: terreno molhado e lamacento em meio às pedras. – Em tempo normal, uma pessoa podia andar pouco mais que 22 milhas por dia. Até Belém, teriam que percorrer pouco mais que 233 milhas. Na melhor das hipóteses, poderiam percorrer a distância em 11 dias. Sem esquecer que ela estava grávida.

Ele procurou o pequeno baú, no qual estavam as moedas que guardava para eventualidades. Certamente teriam que pernoitar em pousadas. Havia o suficiente.  Depois, foi até o curral, para ver como estava o jumento.

Maria preocupou-se em cozer pães ázimos para essa longa viagem. Precisava também assar alguns pedaços de carne de cordeiro. Depois, começou a juntar o azeite, o vinho e o queijo de cabra e o que mais faltasse, especialmente um bom odre com água para o primeiro dia.

Deitou-se em seguida, não sem antes orar a Javé, pedindo proteção e bênção para essa empreitada.

A jornada começaria em dois dias, assim que José conversasse com Benjamin, o vizinho amigo que tomaria conta da casa enquanto estivessem fora.

P. Carlos Arthur Dreher 



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