segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Encontro de Ministras - Meditação



“Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” Lucas 15:8-10

Às vezes, penso que perdi muito. Não foi só uma dracma. Foram várias. E, de forma miserável, não as procurei mais.

Eu sei que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci.

Conheci mulheres que me transformaram o pensar teológico nos encontros feministas. Aliar experiência de mulheres com a teologia era algo muito diferente. Até hoje, mantenho meu respeito inabalável pelas dinossauras da teologia feminista, vindas quase só de uma república “sumpfloch”, que, com uma palavra nos faziam gemer dores de parto por dias a fio.

Ver Rosa Marga empunhando tesoura para dar uma geral nos cabelos das colegas enquanto discutíamos poder das mulheres na igreja e na sociedade, é algo inesquecível.

As dinâmicas que buscavam objetos de dentro de nossas bolsas para expor nossas intimidades teológicas eram motivadoras e ajudavam a compor nossa identidade. Descobríamos não tão diferentes das outras, aprendíamos a nos respeitar, a identificar dons diversos e alegrias mais constantes.

Eu andei demais
Não olhei pra trás
Era solto em meus passos
Bicho livre, sem rumo, sem laços

Lembro de uma dracma que tive foi, na república que morávamos, num empurrão de Anelise à colega que ainda se orgulhava de não ter posição teológica definida: “mas pára com isso, Marga! Não tem outra teologia pra ti que não seja a da libertação!” Perdi um bocado essa liberdade de ser alertada “face a face”. Nossas distâncias, nossas vidas nos separaram.

Animal arisco
Domesticado esquece o risco

Fomos sendo domesticadas. Estruturas não podem correr riscos desnecessários. E fomos nos adequando às programações, às Ordens. 30 anos que nos foram tirando o medo... e nos domesticando...

Por isso lembro de outra dracma, em estágio, Silvia correndo em pastorado tradicional, era mãe e esposa, e sonhando tudo em movimentos populares. Perdi essa fome de transformação! Indico caminho e capacito pessoas, mas eu mesma não mais me envolvo. Perdi.

Acabei com tudo
Escapei com vida
Tive as roupas e os sonhos
Rasgados na minha saída
Mas saí ferido
Sufocando meu gemido
Fui o alvo perfeito
Muitas vezes no peito atingido

Uma dracma que ainda mantenho, foi a capacidade de comunicação com Vânia, “viva a internet”, que me faz ter uma interlocutora ali, perto, distante, que inquire, que pensa junto. Um jeito de manter viva a capacidade e do aconchego, mesmo que cada uma em seu computador. É que
Me senti sozinha

Tropeçando em meu caminho
À procura de abrigo
Uma ajuda, um lugar, um amigo

A parábola da dracma vem depois da parábola da ovelha perdida... A comunidade de Lucas nos testemunha que se tem capacidade de procurar o que ficou de lado... A parábola da dracma perdida vem antes da parábola do filho pródigo. Procuras repetidas e festejos insistentes nesses dois textos.

Eu sei que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes

Esse encontro tem esse gosto de ter achado algo perdido, sim. Não só festejar os 30 anos de ordenação, mas uma procura por teologizar face a face. Reunir conceitos e esclarecer vivências, limpar toda a casa para poder vibrar com algo nosso, que Deus nos deu, e que, se perdermos totalmente talvez nem seja algo de tanto valor para muita gente. Mas é para nós...

E que essa procura – bem evangélica – se torne bem luterana, simultaneamente justa e pecadora, diante de gente que ainda não entende o porquê de uma reunião específica, para que a gente não perca mais essa vontade de se reunir, de expor nossos erros e acertos, para descobrir jeito de respeitar... afinal...

Não vou mudar
Esse caso não tem solução
Sou fera ferida
No corpo, na alma e no coração

Reconhecer nossas feridas, na estrutura de nossos Campos de Atuação Ministerial, no nosso cotidiano, no assédio moral existentes em palavras mal-ditas onde atuamos, é a tal ressurreição de Cristo, em nós. É denúncia, sim. É reconhecimento de feridas, é reconhecer que se tem de limpar a casa.

Pode parecer não ser tão importante – uma dracma só no meio de riquezas infindáveis de dons e testemunhos – mas a gente sabe que foi Deus que deu.

E se Deus deu esse ministério, ai de nós se não procurarmos o que perdermos, e não fizermos muita festa ao nos encontrarmos!

Pa. Margarete Emma Engelbrecht
Meditação inicial do Encontro de Ministras
13 de novembro de 2012

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